sábado, 25 de agosto de 2012

Carandiru - Filme

Sinopse e detalhes

Um médico (Luiz Carlos Vasconcelos) se oferece para realizar um trabalho de prevenção a AIDS no maior presídio da América Latina, o Carandiru. Lá ele convive com a realidade atrás das grades, que inclui violência, superlotação das celas e instalações precárias. Porém, apesar de todos os problemas, o médico logo percebe que os prisioneiros não são figuras demoníacas, existindo dentro da prisão solidariedade, organização e uma grande vontade de viver.

sábado, 18 de agosto de 2012

NOTÍCIAS DE UMA GUERRA PARTICULAR

A “guerra particular” a que o título se refere, extraído de uma frase do ex-capitão do BOPE Rodrigo Pimentel, é o combate sem trégua entre policiais e traficantes nas favelas cariocas. O filme, realizado sob encomenda da TV francesa, causou impacto na época em que foi lançado por permitir que o espectador do asfalto tivesse acesso ao que se passa no morro sem a abordagem sensacionalista e maniqueísta oferecida pelos veículos de imprensa. Katia e João ouviram do já citado capitão do BOPE ao gerente de tráfico do Morro Dona Marta, Adriano. Depoimentos como o de Gordo, um dos fundadores do Comando Vermelho, de Paulo Lins (em sua primeira entrevista, muito antes do sucesso de Cidade de Deus) e do chefe da Polícia Civil, Helio Luz, traçam um histórico do desenvolvimento do tráfico nas favelas e como ele se encaminhava rumo à barbárie que vemos nos dias de hoje.

Embora algumas das imagens (muitas de arquivo de TVs ou emprestadas de outros documentários) impressionem, como a do jovem soldado do morro apresentando sua farta artilharia, ou a do confronto entre policiais e traficantes à luz do dia, é nos depoimentos que reside a força de Notícias de Uma Guerra Particular, e que infelizmente nos faz perceber, seis anos depois, que não é com atitudes desesperadas tipo blindar o carro ou defender o porte de armas que vamos viver num Rio de Janeiro mais seguro.

Os extras do DVD incluem a ótima faixa de comentário, em que é possível rever o filme e entender a estrutura e os bastidores do documentário com Katia Lund e João Moreira Salles respondendo as perguntas inteligentes do cineasta Eduardo Coutinho e do nosso companheiro de Críticos.com.br, Carlos Alberto Mattos. Estão presentes também a íntegra de algumas entrevistas realizadas para o filme, inclusive a do General Nilton Cerqueira (que ficou de fora), com destaque absoluto para a do músico, “filósofo” e morador da favela Adão Xalebaradã, que virou até tema de curta-metragem do irmão de João, Walter Salles.

Como se isso tudo não bastasse, o filé mignon vem agora: o DVD traz também o documentário Santa Marta: Duas Semanas no Morro, de Eduardo Coutinho, rodado em 1987. Comparando os dois filmes (que têm um intervalo de 11 anos) e os dias de hoje, é assustador ver como a situação se deteriorou. O vídeo de Coutinho deixa muito claro como a força que o tráfico adquiriu nos dias de hoje se deve, em grande parte, à deterioração da relação entre a polícia e os moradores da favela. Se há quase 20 anos, como mostram os depoimentos dos favelados, a polícia já cometia todo tipo de abuso contra os moradores do morro, não é de se estranhar que ao longo desse tempo os traficantes tenham assumido o papel de “defensores da comunidade”, e essa evolução está bem clara nos dois documentários.

Ao mostrar o cotidiano dos moradores da favela, Santa Marta: Duas Semanas no Morro nos revela um período em que quase não se falava da presença de traficantes e “chefes do morro”, como se eles simplesmente não existissem. O foco das reclamações dos moradores estava no tratamento ruim que eles recebiam da polícia em suas incursões ao morro e também na esperança de um futuro em que as desigualdades entre a favela e o asfalto fossem um pouco menores. Um jovem franzino de olho meio puxado elogiava as meninas do morro, mais “liberais”, e reclamava que gostaria de ser desenhista profissional “caso as universidades dessem chance aos pobres”. Este mesmo jovem se transformaria alguns anos depois em Marcinho VP, chefe do tráfico do Dona Marta, e foi com ele que João Moreira Salles conversou e pediu autorização para poder rodar Notícias de Uma Guerra Particular. Acreditando que Marcinho ainda poderia se regenerar e voltar a ser aquele de 1987, lhe ofereceu uma bolsa mensal para que ele escrevesse um livro e largasse o tráfico. O livro nunca foi escrito, Marcinho foi preso e em 2003 foi encontrado morto dentro de uma lixeira no presídio de Bangu 3, onde cumpria pena.

quarta-feira, 8 de agosto de 2012

Documentário JUÍZO

Paloma Klisys ·

São “eles” que decidem, mas o que você acha?
Quer morrer? Na hora do pipoco quem vai levar tiro da polícia é você”. Não. Isso não é um jargão extraído de algum seriado de tv. A fala acima é da Juíza Luciana Fiala e está no documentário Juízo, da diretora Maria Augusta Ramos. O filme aborda o julgamento de adolescentes que cometeram infrações e propõe reflexões relacionadas a dificuldades atuais que impedem o cumprimento do Estatuto da Criança e do Adolescente. Juízo ganhou o status de hors concours*1 no Festival do Rio em outubro de 2007, foi premiado em diversos festivais, exibido durante o Human Rights Watch Internacional Film que aconteceu no mês de junho em Nova York e já está disponível em algumas locadoras.

O ECA não permite que adolescentes em situação de conflito com a lei sejam identificados, por isso a diretora convidou jovens em situação de risco para atuar no lugar dos adolescentes que foram julgados nas audiências gravadas para a construção do filme. Os outros personagens são familiares dos adolescentes e profissionais reais no exercício de suas atividades: juízes, promotores, defensores e agentes do DEGASE (Departamento Geral de Ações Sócio-Educativas), órgão ligado a Secretária de Estado de Assistência Social e Direitos Humanos do Rio de Janeiro. Aos telespectadores mais indignados é possível sugerir, além da pipoca, papel, caneta, um olho na tela e outro no ECA.

O trailer disponível na internet contém cenas explícitas de violação da Lei, na íntegra do documentário não é diferente. No transcorrer de 90 minutos de vídeo, as cenas são marcadas quase que quadro a quadro pela desconsideração dos direitos de adolescentes. Dentre os artigos violados destacam-se: o direito ao respeito e à dignidade (Art 15, 16, 17, 18) ; o artigo 178 que determina que “o adolescente a quem se atribua autoria de ato infracional não poderá ser conduzido ou transportado em compartimento fechado de veículo policial, em condições atentatórias à sua dignidade, ou que impliquem risco à sua integridade física ou mental, sob pena de responsabilidade”; o direito de ser ouvido e ter pleno e formal conhecimento da sua situação perante a Justiça (Art 110). No documentário os adolescentes em regime de privação de liberdade são retratados dentro de uma Entidade de Atendimento que não apresenta condições mínimas de higiene e salubridade (Art 124) e onde – pelo menos em nenhum momento do documentário - não acontecem atividades pedagógicas (Art123).

O ECA poderia representar um salto quântico desde o Código de Menores, implementado no regime militar, fundamentado na Doutrina da Situação Irregular. O Código foi planejado para ser posto em prática só a partir do momento em que o “menor” viesse a cometer alguma infração ou apresentasse “conduta ou exposição a situações irregulares”, termos que não eram apresentados ou definidos de maneira clara. Possuía graves limitações, favorecendo violações de direitos pelo próprio Estado e centralizando os poderes no Judiciário.

Juízo chama a atenção aos perigos de um judiciário despreparado que demonstra negligência na percepção de complexos contextos reais que nos desafiam a implementar políticas inter-setoriais e que, ao invés de garantir direitos previstos na legislação, acaba por decretar decisões que prejudicam ainda mais a preservação da integridade dos jovens.

A juíza Luciana Fiala, que protagoniza o documentário realizando uma série de audiências com adolescentes infratores, diz a um dos garotos: “fico espantada porque é um menino com saúde graças a deus, dois braços, duas pernas…podia estar fazendo uma coisa lícita, podia tá lavando um carro, vendendo uma bala, mas não! Ta roubando os outros”. Como se o trabalho no mercado informal devesse ser considerado como uma alternativa adequada aos jovens que não têm garantidas as condições básicas para sua sobrevivência, desenvolvimento e formação profissional. Repete o tom da fala utilizada para a abertura desse texto, como se devêssemos considerar como natural a possibilidade de um adolescente vir a ser baleado pela polícia. Fiala parece não dar muita importância ao fato do texto legal defender que “submeter criança ou adolescente sob sua autoridade, guarda ou vigilância a vexame ou a constrangimento” (Art232) é crime – bem como parece se esquecer que é dever do Estado zelar pela integridade física e mental dos internos, cabendo-lhe adotar as medidas adequadas de contenção e segurança. (Art 125).

Há dezoito anos, com o nascimento do Estatuto, a Doutrina da Situação Irregular prevista pelo antigo Código, foi substituída pela Doutrina da Proteção Integral, afirmando crianças e adolescente como sujeitos de direitos. Acompanhando a mudança de foco, passam a ser cidadãos com prioridade na elaboração de políticas públicas capazes de fortalecer sistemas e redes de garantia, proteção e promoção de direitos para o efetivo atendimento de suas necessidades. Sobrevivência, desenvolvimento e integridade são questões ligadas fortemente a ações e estratégias de advocacia, pedagogia e mobilização social.

Depois de vinte e três anos do suposto fim da Ditadura, vale lembrar o Art 223 do ECA que foi revogado pela Lei 9.455, de 7/04/1997, definindo como crime de tortura, com pena de reclusão de dois a oito anos (Art I, inciso II): ”submeter alguém, sob sua guarda, poder ou autoridade, com emprego de violência ou grave ameaça, a intenso sofrimento físico ou mental, como forma de aplicar castigo pessoal ou medida de caráter preventivo”. O documentário serve como combustível pra incendiar ainda mais o debate. São “eles” que decidem, mas o que você acha?


fonte: http://www.overmundo.com.br/overblog/juizo-o-filme

Entre a Luz e a Sombra

Ao longo de sete anos, a partir de 2000, são acompanhados os passos da dupla de rappers 509-E, formada por Dexter e Afro-X dentro do Carandiru; da um atriz Sophie Bisilliat, que dedica sua vida para humanizar o sistema carcerário; e um juiz que acredita em um meio de ressocialização mais digno para os encarcerados.